A substituta
Ainda
bem no início do ano letivo ocorreu um remanejo de professoras: a colega que
atuava comigo na turma de segundo ano do ensino fundamental passou a ser a
substituta da escola. E eu fui explicar para a turma:
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A partir de hoje a professora ..... não vai mais trabalhar só com a nossa
turma; ela vai trabalhar com todas, porque será a substituta.
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Prostituta?! A Mariele, de sete anos, se assusta.
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Não. Substituta.
___Prostituta?!
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Professora substituta.
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E o que é isso? Pergunta, então.
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É a professora que dá aula quando eu ou outra professora da escola precisar
faltar para fazer um curso, ir ao médico, ficar doente.
___Ah...
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Um
dia, no mês de junho, a Mariele aproximou-se da minha mesa, durante um recreio
que acontecia dentro da sala de aula por causa da chuva.
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Sabia que quando eu crescer eu vou ser prostituta?
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Ah, é?- Perguntei, disfarçando minha surpresa – E o que é ser prostituta?
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É ir ‘pro bailão’ dançar, ficar com tudo
o que é ‘home’.
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E pra que? Pra ganhar dinheiro?
___Não,
só pra ficar, porque é bom.
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Você deve pensar em estudar, ser médica, vendedora, professora, dentista e pode
ir pra baile, namorar, com um namorado de cada vez.
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É, minha mãe falou que eu tenho que
estudar. Mas eu quero ser prostituta, como a minha tia.
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Você deve sempre pensar em estudar primeiro – terminei a conversa, porque
terminou o recreio...
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Depois disso, o assunto não voltou mais durante o ano
letivo.